O impacto da pandemia COVID-19 na Saúde Mental
- Rita Cercas
- 26 de jul. de 2020
- 2 min de leitura
"A quarentena profilática associada à pandemia COVID-19 origina uma série de riscos para a saúde mental. Os estudos publicados sobre este tema baseiam-se em quarentenas de grupos pequenos, devido principalmente aos vírus SARS-CoV1, MERS-CoV, HINI e ao Ébola. Os dados foram obtidos em estudos com amostras englobando apenas algumas centenas de pessoas, e por períodos relativamente curtos, de 10 a 21 dias de isolamento. Nunca se verificou uma quarentena massiva de milhões de pessoas em simultâneo, e sem um término à vista, o que corresponde a um aspeto negativo para a resiliência da saúde mental. Se é verdade que o isolamento é importante para proteger a nossa saúde física, impedindo o contágio pelo vírus, também é verdade que quanto mais tempo estivermos isolados maiores serão os riscos de sofrermos doenças psiquiátricas. Sabemos que a quarentena pode originar uma constelação de sintomas psicopatológicos, designadamente, humor deprimido, irritabilidade, ansiedade, medo, raiva, insónia, etc. Além disso, identificaram-se consequências a longo prazo para a saúde mental. Cerca de três anos após a quarentena, verificou-se um aumento de risco para o aparecimento de abuso de álcool, sintomas de perturbação de stress pós-traumático e depressão. Neste contexto de isolamento, provavelmente irão aumentar a perturbações depressivas e as perturbações de stress pós-traumático. Para além do stress associado ao receio de contrair a doença, existem ainda outros fatores que aumentam a vulnerabilidade psicológica das pessoas em quarentena. Refiro-me às dificuldades económicas decorrentes desta pandemia, nomeadamente ao risco do aumento do desemprego que está associado a um agravamento da saúde mental da população. Uma última referência sobre a forma como está a ser feito o luto das pessoas que morrem durante este período de pandemia. Devido às medidas preventivas de saúde pública, as cerimónias fúnebres estão a ser realizadas quase sem pessoas. Muitos familiares e amigos estão privados de se despedirem de quem morre; ou seja, não existem abraços, nem o habitual consolo do luto feito em comunidade. Isto acarreta um enorme sofrimento para todos aqueles que perdem os seus familiares e amigos. Em suma, vivemos tempos estranhos. Neste período levantam-se muitas dúvidas, e irá certamente demorar muitos anos até compreendermos qual foi o verdadeiro impacto da pandemia na saúde mental".
Autor: Pedro Afonso, artigo publicado em O PubMed, que compreende mais de 30 milhões de citações para literatura biomédica da MEDLINE, revistas de ciências da vida e livros on-line.

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